A antiga capital de Minas Gerais nasceu em 1701, fruto do trabalho dos bandeirantes que deixaram São Paulo para trás, exterminaram diversos povos indígenas que viviam no interior do país e, depois de muita procura, encontraram o que Portugal tanto queria – ouro. Ouro que a Espanha já havia encontrado em sua parte da América.
Durante quase um século, o ouro foi a principal atividade econômica portuguesa no Brasil. E nenhuma cidade das Minas Gerais foi mais importante que Ouro Preto, na época chamada de Vila Rica.
Um pouco de História
Quando o ouro foi encontrado no Brasil, começou uma intensa migração de portugueses para a colônia, todos em busca das riquezas prometidas. Em um século, a população brasileira saltou de 300 mil pessoas para 3 milhões, como conta a Wikipédia. Foram os novos moradores, na maioria portugueses, que ajudaram com que a capital brasileira deixasse de ser Salvador – o Rio ficava mais perto das minas. Foi também a mineração que alterou o eixo político da colônia para o sudeste, tornou o português o idioma mais falado por aqui, em substituição ao tupi, e criou uma classe média em solo nacional.
E, segundo alguns historiadores, foi o ouro nacional que financiou a Revolução Industrial Inglesa, já que a Inglaterra tinha acordos econômicos com Portugal. Acordos desvantajosos para Portugal, para deixar claro.
Quando o ouro acabou, o Império caiu e a República nasceu, Ouro Preto pareceu ultrapassada para os políticos mineiros, que então planejaram e fundaram Belo Horizonte. O resultado foi uma mudança em massa para a nova capital, fato que deixou Ouro Preto relativamente bem conservada, sem sofrer muito com os ataques típicos da modernidade. Ainda bem.
Dito isso, fica o óbvio: Ouro Preto tem muita história para contar. O que você está esperando para visitá-la? A cidade fica a menos de 100 km (1h30 de estrada) de Belo Horizonte. Agora, vou te mostrar algumas das atrações da cidade, para que você possa planejar o que fazer em Ouro Preto.
Centro Histórico de Ouro Preto
O Centro Histórico de Ouro Preto é enorme e, não vou mentir para você, cheio de ladeiras. Você vai se esforçar para subir e descer cada uma das ruelas da cidade, vai suar para encontrar aquela igreja, vai ter que se sentar para recuperar o fôlego. Mas vai valer a pena. Sinceramente, caminhar pelas ruas de Ouro Preto, observar os casarões e pensar nas histórias guardadas em cada construção são as melhores coisas que você pode fazer na cidade. Junto, claro, com a possibilidade de aproveitar os restaurantes, bares e vida noturna da antiga capital de Minas.
Comece sua caminhada pela Praça Tiradentes, a principal da cidade. Foi ali que ficou exposta a cabeça de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, morto pela participação na Inconfidência Mineira. Quando isso aconteceu, em 1792, a praça tinha outro nome. E passou todo o período imperial, a partir de 1822, se chamando Praça da Independência. Foi só com a República que um monumento foi colocado no centro da praça, que ganhou seu novo nome, em homenagem ao conspirador que foi convertido em primeiro herói do Brasil.
Dois prédios se destacam ali. O mais bonitão é Museu da Inconfidência, que antigamente era a Casa da Câmara e também uma cadeia. O outro, que está em posição oposta, é o Museu de Ciência e Técnica, o antigo Palácio dos Governadores. Quando estiver lá, repare que a estátua do Tiradentes, no centro da praça, não olha para o prédio do governador, mas para o Museu.
Vale a pena entrar no Museu da Inconfidência, principalmente se você curte história. O Museu abre de terça a domingo, das 10h às 18h, e o ingresso custa R$ 10. Crianças pagam meia-entrada. O Museu é adaptado para portadores de necessidades especiais.
Detalhes no site oficial.
Coloque-se no lugar do Tiradentes. Não precisa subir no monumento, apenas olhe na mesma direção que ele. Feito? À sua direita está uma das ruas mais importantes de Ouro Preto, a Rua Direita. Ali você vai encontrar vários bares e restaurantes interessantes. E atrás do Museu da Inconfidência você verá igrejas. Não deixe de visitá-las. Vou destacar as mais importantes, não só perto da Praça, mas em todo centro histórico.
A Igreja do Carmo fica atrás do Museu da Inconfidência, também à direta do Tiradentes. As obras começaram em 1756 e o projeto foi encomendado por Manuel Francisco Lisboa, um arquiteto que assinou diversas construções por ali e que era pai de outro bem mais famoso, o Aleijadinho. O estilo da construção é o Rococó, nome que você pode até não saber explicar o que é, mas que é bonito mesmo assim.
A Wikipédia tem duas expressões que resumem a história: “o rococó é a variação profana do barroco” e o “barroco levado ao exagero de decoração”. Ficou interessado? Então visite essa igreja. Note que há uma taxa de entrada, usada na manutenção do templo, mas o preço é simbólico: R$ 3. Da escadaria da Igreja você terá uma vista ótima, com direito a um belo pôr do sol.
E, antes que eu me esqueça, ao lado da Igreja do Carmo fica o Museu do Oratório, que guarda 162 oratórios e mais de 300 imagens religiosas. O museu está aberto de segunda a domingo, das 9h30 às 17h30. A entrada custa R$ 5. Detalhes no
site oficial.
Ali pertinho, na Rua Brigadeiro Musqueira, fica uma construção de fachada simples. É o Teatro Municipal, o mais antigo do tipo do Brasil que ainda está em funcionamento. Eu nunca entrei lá, mas coloquei como prioridade depois que li
esse texto da Silvia, do Matraqueando. Se a fachada não chama tanta atenção assim, o interior do prédio garante que a visita é merecida. Pelo menos pelas fotos que eu vi.
Agora vamos no sentido contrário. À esquerda da estátua do Tiradentes, vire na Rua Cláudio Manoel. Desça a ladeira por uns 5 minutinhos e você vai dar de cara com a Igreja de São Francisco de Assis, que recebeu os trabalhos caprichosos de dois artistas de nome: Aleijadinho e Mestre Ataíde. É dele a composição do teto da Igreja, mostrada na foto abaixo.
Em 2009, a Igreja de São Francisco de Assis foi declarada como uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo. A entrada custa R$ 6. E na frente da Igreja fica a Feira de Pedra Sabão mais tradicional da cidade, um ótimo lugar para comprar suas lembrancinhas.
Igreja de São Francisco de Assis
Depois das compras, volte para a Rua Cláudio Manoel e termine de descer o ladeirão. No final da rua, entre à esquerda na Bernardo Vasconcellos. Pausa para fotos, com a parte de trás da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição compondo o visual.
Esse é outro templo que recebeu os trabalhos de Aleijadinho (ele está enterrado lá). Por falar nele, essa igreja é também o endereço do Museu do Aleijadinho. A entrada custa R$ 6, mas é o mesmo ingresso usado para visitar a Igreja São Francisco de Assis. Só que tem um detalhe: a Matriz de Nossa Senhora da Conceição está fechada para reforma, trabalho que deve durar três anos.
A lista das igrejas mais importantes de Ouro Preto continua do outro lado da Praça de Tiradantes. Mas, já que você está por aí, que tal se enfiar pelos túneis da Mina de Chico Rei? Reza a lenda que Chico, cujo nome real seria Galanga, era um escravo. Ele seria o rei de uma tribo do Congo, até que foi capturado, colocado num navio negreiro e vendido, já no Brasil. Ele teria trabalhado nesses túneis durante anos, até que conseguiu comprar a liberdade. Anos mais tarde, Chico Rei teria comprado a própria mina.
Não se sabe quais partes dessa história são reais, mas o fato é que você pode visitar os túneis da mina, que foi redescoberta em 1950. Os túneis passam abaixo de todo o centro histórico da cidade, mas você só pode visitar a parte iluminada, que tem uns 50 metros. A entrada fica na Rua Dom Silvério, pertinho da Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Há muitos anos eu não visito essa mina, então fico devendo o valor da entrada – atualizo isso em breve, assim que passar novamente pela cidade.
Suba as ladeiras. Depois de recuperar o fôlego e dar um oi para a Praça Tiradentes, desça para o outro lado, na Rua Direita (também chamada Rua Conde de Bobadela). Passe pelos restaurantes e bares e continue descendo a ladeira, que vai mudar de nome. Pare quando você estiver chegando perto da Matriz de Nossa Senhora do Pilar, outra Igreja que vale a entrada.
Matriz de Nossa Senhora do Pilar
Nenhum templo da cidade tem o interior tão repleto de ouro quanto este. Na realidade, no Brasil, apenas apenas a Igreja de São Francisco, em Salvador, tem riqueza mais abundante. Pelo menos é isso que minha professora de história de ensino fundamental sempre garantiu. O ingresso custa R$ 6 e vale para o Museu de Arte Sacra, que também fica ali.
Quando recuperar o fôlego, é hora de subir a Rua Antônio de Albuquerque e procurar pela Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Na minha modestíssima opinião, essa igreja tem a fachada mais bonita da cidade, mas eu sou o primeiro a concordar que não saco muito de arte barroca ou rococó. O interior não é tão imponente assim (essa era a igreja dos escravos, por isso a simplicidade). Se você já estiver cansado de igrejas, não precisa entrar. Mas tente conhecê-la pelo lado de fora.
Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos
Ok, eu sei, você se cansou de Igrejas. Mas Ouro Preto tem mais, viu! A maioria dos turistas, no entanto, se contenta em visitar duas ou três das igrejas da cidade.
E já que o objetivo é parar de falar de Igrejas, outra atração interessante é a Casa dos Contos. Esse museu fica num casarão do século 18 que foi sede da contabilidade governamental, prisão e até esconderijo para os conspiradores da Inconfidência Mineira. E visitei o local uma vez, há trocentos anos, e curti bastante.
A Casa dos Contos fica no centro, na Rua São José, pertinho do Restaurante O Passo, que nós recomendamos que você conheça, e do Horto dos Contos, uma área verde que ocupa grande parte do centro da cidade, tem uma trilha de 1.5 quilômetro e vários mirantes.
O que fazer em Ouro Preto: outras atrações
Olha, se você fizer só o que eu falei acima, já vai sair de Ouro Preto feliz. E cansado, mas isso é outro problema. Como eu disse antes, não acho que seja necessário entrar em todas as igrejas e museus. Use o discernimento e suas preferências para escolher aqueles que mais parecem te interessar. Além disso, você pode tentar ver os prédios em funcionamento – como durante uma missa, por exemplo. Basta perguntar na sua pousada para conseguir informações sobre isso.
E, não se engane, os sinos vão dobrar todo domingo de manhã, chamando o povo para a missa. Pela quantidade de igrejas, você pode imaginar que dormir por ali até mais tarde não é fácil, ainda mais em dias santos.
Outro passeio imperdível envolve visitar Mariana, cidade histórica que fica a 22 quilômetros de Ouro Preto. Mariana foi a primeira capital de Minas e está repleta de lugares charmosos, como mostram as fotos abaixo. E sim, lá tem mais igrejas. Até uma ao lado da outra.
Você pode ir até lá no trem turístico que liga Ouro Preto e Mariana, que é controlado pela Vale. O passeio ocorre nos finais de semana e feriados e custa R$ 40 (um trecho) ou R$ 56 (ida e volta). Eu acho o preço muito salgado e desproporcional, mas não deixa de ser uma atração interessante. Se resolver fazer o passeio saindo de Ouro Preto, garanta um lugar no lado direito do trem, para ter a melhor vista.
Detalhes no site da Vale.
Dica esperta: pague apenas um trecho, desça em Mariana, almoce por lá e depois volte para Ouro Preto de ônibus urbano, que passa a cada 30 minutos, no centro da cidade, verificar valor.
Além de economizar uns trocados, fazer uma perna da viagem de ônibus garante que você poderá conhecer a Mina da Passagem, que fica no meio do caminho entre Mariana e Ouro Preto e alega ser a maior mina de ouro aberta ao público do mundo.
No fundo da Mina da Passagem
De fato, é uma mina enorme, bem diferente da do Chico Rei, e, numa boa, um dos passeios que eu mais gosto da cidade. Você entra num carrinho de mineração e desce no melhor estilo Donkey Kong (quem jogou SNES vai se lembrar das semelhanças). Verificar valor.
As atrações ao redor de Ouro Preto incluem ainda o Parque Estadual do Itacolomi, ótima pedida para trilheiros, algumas cachoeiras, a simpática Lavras Novas, distrito de Ouro Preto que é muito procurado por casais e tem restaurantes e bares interessantes, e o Museu das Reduções de Amarantina. Nunca visitei o local, mas a Camila, do blog Viaggiando, recomenda. Por fim, o
site oficial do turismo de Ouro Preto é sempre um bom local para continuar seu planejamento.
E você? Já esteve em Ouro Preto? O que mais gostou na cidade?
Fonte: http://www.360meridianos.com.br