Explore o interior europeu e conheça algumas das mais belas regiões dos vinhos da França, de Champagne à Provença e suas deliciosas especialidades.
Vinho. O doce, suave e poderoso elixir que pontua uma refeição e eleva o espírito. Branco, tinto, rosé ou espumante – a França ostenta a reputação de possuir alguns dos melhores vinhos do mundo. Muitos vinhos franceses são classificados pela região em que suas uvas são cultivadas, sob o rótulo AOC (Appellation d’origine contrôlée), algo como “denominação de origem controlada”. A AOC com a qual eles são identificadas reflete as qualidades únicas do solo e do clima da região. Reconhecer os mais de 300 AOCs da França não é tarefa das mais simples, mas eis uma desculpa perfeita para voltar várias vezes e tentar provar todos!
Quem embarcar em uma viagem para explorar as regiões onde as uvas crescem passará horas e mais horas por entre colinas e vinhedos no Vale de Ródano, na fronteira alemã da Alsácia e juntinho do Atlântico perto de Bordeaux. Sirva-se com uma taça de inspiração e encante-se com o nosso guia das melhores regiões vinícolas da França.
Bordeaux
A região vinícola da appellation de Bordeaux é literalmente “au bord de l’eau” (perto da água). O Rio Garona corre de um lado e o Rio Dordonha de outro, tudo terminando no estuário de Gironde antes de cair no Atlântico. O solo arenoso único gera grãos especiais, o que inspirou a vinoterapia local, com grãos de uva ricos em minerais e antioxidantes.
Encha os olhos e o paladar em Saint Emilion, Patrimônio da UNESCO, com sua igreja monolítica e ruínas históricas, e prove do seu delicioso vinho tinto. Uma parada na cidade portuária de Bordeaux será um ótimo interlúdio gastronômico – não perca o “entrecôte a la bordelaise”, um bife de costela com molho de vinho tinto. Seguindo pelo estuário com seus curiosos “carrelets” (redes de pesca quadradas) pontuando as margens, você chegará a Médoc.
Médoc
A AOC Médoc logo vem à mente quando se pensa nos sofisticados vinhos franceses. Uma lista de Grands Crus (classificação regional de vinhos) tão antigas quanto de 1855 vai ajudar o visitante a se achar por regiões vinícolas como o Château Mouton Rothschild em Pauillac. A propriedade mantém uma tradição anual, desde 1945, de convidar artistas como Dali, Picasso e Jeff Koons para criarem rótulos de vinhos, marcando cada ano de forma única dentro e fora da garrafa.
Se sobrar fôlego, encare a Maratona du Médoc em setembro – uma corrida temática, pontuada por 22 paradas para provar vinhos e “petiscos” (ostras, carnes, queijos etc.).
Borgonha
A região vinícola de Borgonha tem uma reputação única para vinhos de primeira classe, por sediar os vinhos tintos mais caros da França – garrafas da propriedade Domaine de la Romanée-Conti custam até R$ 50.000. Profissionais e conhecedores a visitam todo mês de novembro para um leilão de vinhos em Beaune, onde vinhos de alta qualidade dos vinhedos de Hospices de Beaune são vendidos. Os eventos que acontecem na época do leilão são ótimas oportunidades para provar os produtos típicos locais, incluindo alguns vinhos raros.
Cruze a rodovia D974 de Beaune para Dijon, e passe pela AOC Nuits-Saint-Georges e o Château du Clos de Vougeot (um vinhedo histórico do século 12, administrado por monges cistercienses). Em uma visita a Borgonha não pode faltar uma parada em Dijon, a cidade famosa por sua mostarda, mas também por sua bebida de licor de cassis com vinho branco. Quando estiver em Dijon, a cidade dos cem campanários, não deixe de passar ao lado da igreja de Notre-Dame para participar da tradição de passar a mão na pequena escultura da coruja em sua fachada – dizem que quem passar a mão esquerda da esquerda para a direita terá seu pedido realizado.
Jura
Entre a região vinícola de Borgonha e os Alpes Suíços, fica a menor região de vinhos da França. Ainda pouco visitada pelos turistas, a região mantém um charme de interior, perfeito para uma visita descontraída e um papo com um dos mais de 200 vitivinicultores da região. O segredo mais bem guardado de Jura é o Vin Jaune (vinho amarelo) – um vinho de grande prestígio composto por 100% de uvas Savagnin, cultivadas no fim da estação, e maturadas por pelo menos seis anos.
A dica é procurar pelo Vin Jaune na AOC Château-Chalon, com seus aromas de nozes, especiarias e até gengibre – melhor deixar decantar um dia antes de beber. A cidade medieval de mesmo nome esconde ainda o Le P’tit Castel, um restaurante tradicionalíssimo onde a especialidade é combinar os vinhos de Jura com um prato de Poulet de Bresse (frango de Bresse) com creme de cogumelos Morilles.
Champagne
O coração de Champagne é a cidade de Reims. Suba a torre da catedral do século 13, com suas janelas de vitrais projetados por Marc Chagall, para ter uma visão privilegiada da região. Os espumantes mais antigos de Reims estão nas adegas da Maison Ruinart, de 1729. Os quilômetros sem fim das adegas de Pommery, onde acumulam-se 20 milhões de garrafas de champagne, merecem uma vista quando artistas contemporâneos iluminam as paredes de pedras com instalações de arte temporárias.
Dirija 25 minutos para Epernay, e caminhe pela Avenue du Champagne, com sua gigante rotatória em forma de rolha de champagne. Nessa rua, você poderá visitar as adegas Moet et Chandon e provar a champagne Dom Pérignon, batizada com o nome do monge considerado pioneiro na produção de vinhos espumantes.
Rhône (Ródano)
Os 200 quilômetros da região de vinhos de Rhône (ou Ródano) espalham-se do sul de Lyon até Luberon, em Provença. Dizem que três rios correm em Lyon – o Ródano, o Saône e o Beaujolais. Com o lançamento do jovem vinho Beaujolais (mas que já garantiu uma appellation própria), a dica é visitar Lyon em novembro, quando a maioria dos restaurantes serve o vinho conhecido como Beaujolais Nouveau.
Os vinhos de qualidade superior na região de Rhône ostentam a AOC Chateauneuf du Pape. Rosé de elite, a AOC Tavel enconde-se nas profundezas do Vale de Ródano, onde um terreno arenoso e avermelhado produz um rosé seco e aromático conhecido como o “vinho dos reis”. De lá, pode-visitar a cidade de Avignon, a meros 20 minutos de carro. Bastante movimentada durante o Festival d’Avignon em julho, a cidade é melhor aproveitada longe das multidões enquanto passeia-se ao longo do Ródano.
Sudoeste da França
Vinhos tintos escuros e encorpados são a marca do Sudoeste da França. Tão escuros que alguns vinhos produzidos na AOC Cahors com a uva Malbec são às vezes chamados de vinho preto.
Há muita história nas raízes da região em um vilarejo chamado Sarragachies, lar dos mais antigos vinhos da França. Os vinhos de 150 ou 200 anos, classificados como monumento histórico da França, estão na família Pedebernade há várias gerações, no coração da appellation de Saint Mont.
Vale do Loire
Os vinhos tintos parecem monopolizar os vinhos de qualidade da França, mas são os vinhos brancos que ganham destaque no Vale do Loire. Na maior fonte de vinhos brancos do país, delicie-se com os vinhos da AOC Muscadet ou AOC Pouilly Fumé. Iguarias locais como os três “R” – rillauds, rillettes e rillons (aperitivos à base de porco e toucinho) – e o queijo de cabra Crottin de Chavignol são deliciosos contrastes salgados para os vinhos secos. Ou experimente algo novo e peça uma taça de “vinho cinza” como a AOC Touraine Noble Joué, um misto de uvas brancas e vermelhas, com aromas de cereja e morango.
Os castelos tomam conta ao longo do leito do rio em Loire, região reconhecida como Patrimônio Mundial da UNESCO. Uma visita ao Château de Cheverny, um castelo do século 17 que perpetua a tradição do “chasse à courre” (caça com cachorros), permite observar a refeição dos cães de caça diariamente às 11h30 para abrir o seu apetite.
Alsácia
Região tomada por vilarejos com casas de madeira e paisagens de lindos vinhedos, a região vinícola de Alsácia é um ótimo local para descobrir vinhos deliciosos e mergulhados em história. Por estar pertinho da fronteira com a Alemanha, pode-se tranquilamente passar uma manhã em Estrasburgo e uma tarde em Freiburg (Friburgo). Mas não precisa ir muito longe, pois há vinho de sobra para provar em Alsácia. Garanta um lugarzinho no “winstub” (bar ou bistrô local) Le Clou e saboreie uma taça dos vinhos brancos secos ou suaves famosos da região. Riesling, Sylvaner – perfeitos para acompanhar aspargo s brancos ou sauerkraut – ou o doce Gewurztraminer – com queijos ou sobremesas – são alguns dos vinhos que você encontra por lá.
Visite as adegas no subterrâneo do Hospital de Estrasburgo para ver um verdadeiro tesouro, considerado o vinho mais antigo e melhor preservado do mundo. Desde 1395, vinhos de toda a região são guardados no local, frutos de permutas ou doações. Para ver os excepcionais vinhos do século 15, pode-se fazer um tour gratuito pelas vielas subterrâneas do local.
Languedoc
Languedoc é a região vinícola mais cara da França, rodeando a costa do Mediterrâneo e fazendo fronteira com os Pirineus. O “terroir” tão diverso, com praias arenosas e muitas montanhas, produz uma paleta de tintos densos e brancos e rosés super leves. Corbières é a maior appellation em Languedoc.Surpreendentemente, Languedoc é reconhecida por seu ancestral vinho espumante Blanquette de AOC Limoux, ou AOC Blanquette Ancestrale, descobertos em 1530 quando monges viram o seu vinho engarrafado fermentando uma segunda vez, muito antes do método desenvolvido na região de Champagne. A Abadia de Saint Hilaire, onde tudo aconteceu, organiza visitas guiadas com degustação de vinhos.
Provença
Provença é sinônimo de verão e dias ensolarados – ponha isso dentro de uma garrafa e você terá o Côtes de Provence ou o Côteaux d’Aix. São duas ótimas appellations de rosé que parecem refletir os tons dos campos de lavanda, e pares perfeitos para a maravilhosa cozinha provençal, com suas azeitonas, pimentões de três cores e frutos do mar.De Toulon, faça um rápido passeio de barca até a ilha de Porquerolles. Caminhando um pouquinho desde o porto pela cidade dos telhados vermelhos, e você não vai demorar para estar provando os vinhos roseados docinhos da Domaine de l’Ile, de preferência molhando os pés na água azul cristalina.
Charente
Esqueça do vinho por um minuto e dedique-se a uma bela tacinha de Cognac (o conhaque original). Produzido exclusivamente com uvas da região de Cognac, a bebida é destilada em vasos de cobre e envelhecida por pelo menos dois anos. Não deixe de visitar a sede da Hennessy, uma das maiores produtoras de Cognac no mundo.Se Cognac é muito forte para o seu paladar, experimente o Pineau de Charente, uma bebida doce e encorpada, que provém de uma mistura envelhecida de Cognac e suco de uva não fermentado. Seja qual for o drinque de sua escolha, aproveite para visitar os pequenos produtores e vendedores artesanais espalhados pelo lindo vale de Charente.
Faça um pit-stop em Aubeterre-sur-Dronne, considerado um dos mais belos vilarejos da França com sua igreja subterrânea. Ou visite Angoulême, durante o Festival Internacional de Quadrinhos em janeiro, ou para um passeio pela cidade coberta com afrescos gigantes e street art colorida.
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